(Foto: reprodução) |
O
sol está brilhando, minutos depois as nuvens aparecem e alguns segundos mais
tarde chuva começa a cair. Tudo parece normal quando estou em casa vendo
televisão ou tentando escrever alguma coisa para publicar usando minha internet
super rápida, que não passa 850Kbps, rapidez que era sonho há dez anos, mas
hoje não passa de pesadelo oferecido por uma operadora que leva o nome do céu
em inglês.
Resolvo
sair de casa, é dia de plantão. Percebo que as gotas harmoniosas que faziam uma
sinfonia sonolenta no meu telhado parecem gotas de fogo ao tocar o asfalto que
cortam a Ilha Paradisíaca em cima da linha do Equador.
A
impressão que tenho é que as gotas de chuvas que vão e voltam nesses tempos
estranhos do mês de janeiro caem como larvas nos semáforos, que apagam e o
trânsito logo para, formado uma filha indiana na cidade mais portuguesa do
Brasil.
Os
trovões anunciam que a chuva vai continuar. Então percebo que vou passar mais
tempo do que o normal na condução amarela, resfriada com uma câmara frigorífica
sem força. Pego meu celular e dou uma olhada nas informações que algumas gotas
de chuva podem gerar.
Vejo
além de apagar os semáforos na Ilha de Luís XIII, a chuva tem o poder de
transformar via em rios e casa em portos. Tem gente que até usa uma moto
aquática parta dá um 'rolezinho' na Jamaica da América do Sul. Às vezes, isso
gera confusão e o noticiário já mostrou que pelo menos dois carros cariam em
rios, mas rios mesmo, sem confundir com as avenidas.
Ao
chegar aos terminais de integração, as conduções amarelas passam por uma grande
mudança. Penso que os pneus vão virar um casco para o trânsito fluir e a viagem
ser menor, mas na verdade a única coisa que vejo é que começou a chover dentro
do ônibus. Nego pega a sobrinha e abre no coletivo. A água é gelada, diferente
a chuva que está caindo lá fora. Na verdade, o gerador de ar frio que está com
defeito e condensa do lado errado.
Começo
um tour pelas culturas de étnicas que forma a história de Upaon-Açu. Na Avenida
Guajajaras a condução amarela 062 não anda direito. Logo vem a minha à memória
os anos que passei férias no interior na minha infância. A diversão era acordar
cedo para ir para roça. Como eu nunca conseguia acordar, me contentava em
peneirar massa de mandioca para fazer farinha ou beiju. Parado aqui nesse
ônibus penso quem em vez dos índios, a homenagem da avenida deveria ser ao
beiju, porque o asfalto é todo enrolado.
Depois
do entrave para passar no portal de entrada que ficar 24km dentro da cidade,
consigo ver a Europa, mas precisamente os franceses, os primeiros que
desembarcaram aqui após ficarem babando a Ilha lá do outro lado da Baia de São
Marcos. Como toda homenagem deve ser bem feita, a Avenida dos Franceses possui
o maior ponto de embarque e desembarque da França Equinocial. Como falta dez
minuto para o bilhete único estourar o tempo e eu não posso ir pela Alemanha
para não pegar engarrafamento pelo Monte Castelo até o Rio Branco, resolvo
descer na rodoviária pegar outro frescão
amarelo.
Não
sei se francês gosta de ferrugem, sujeira e ratos. Quer dizer, um episódio do
Pica-Pau fala isso, mas não sei se é verdade. Só sei que a Rodoviária parece a
França velha, aos pedaços. Vi tudo isso no momento em que fui ao banheiro, o
feijão da noite anterior não caiu bem.
Volto
para o ponto de ônibus, PARADA, como se diz por aqui. E lá vem o Amarelo 071.
Pego ele, passo pelo Café e entro de cara na África. Se os escravos sofreram
quando vivos, os da Ilha Magnética se remexem no tumulo toda vez que os dragões de ferros cortam a
Africanos, deixando ondas gigantes no asfalto depois. Não sei se as ondas da
avenida representam as ondas do Atlântico no percurso África/Nordeste. Só sei
que isso é um risco, ainda mais com a chuva que cai na Ilha. Às vezes as
cachoeiras do Coroado e Filipinho jorram água demais e se juntam às ondas
africanas. Tudo vira um reboliço.
Demoro
40 minutos para chegar na Areinha. Foi aí que me dei conta que a condução
amarela vai passar no mesmo lugar do outro frescão que eu estava. Um caminho de
placas demarca e mostra a direção do Centro.
Ninguém nunca me pediu tantas desculpas como essas placas, me senti importante
até chegar ao Bom Menino e ter a notícia que a causa do pedido de desculpas já
terminou. Ah, a Pantheon e Deodoro foram entregues reformas com bustos, umas
bolas de cimento e tudo mais, mas o transtorno continua ainda mais com chuva. A
obra deixou uma herança, apenas dois caminhos em vez de quatros. Nada mudou, o
caos ainda é o mesmo de meses arás.
Entre
os gritos e pressa passo pelo Rio Branco, a chuva ainda cai e já estou uma hora
atrasado. De repente, como montanha russa o frescão ganha velocidade e vejo a
linda vista para o mar, vou admirando tudo a história e a poesia que emanam das
primeiras casas de São Luís. Chego ao terminal da Praia Grande e como no passe
de mágica sei que roupas vão ser colocadas no varal novamente.
O
Sol abriu e no caminho a pé para o trabalho algo começa a saltitar no meu
bolso. Como um rádio comunicado com imagens, recebo no celular fotos dos
problemas que uma hora e meia de chuva gerou em São Luís. Até o asfalto que foi
colocado em outubro já se foi. Chego no serviço, levo uma bronca por atraso e
penso aqui comigo: só cai chuva doida nessa ilha danada.
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