Mulher Negra e o empreendedorismo

Divulgação
A luta por igualdade é diária apesar de vivermos no segundo país mais desigual do planeta. Há luta por igualdade econômica, igualdade de raças e igualdade de gênero. O que era utopia antes começa a virar realidade, mesmo que em passos curtos, no mundo globalizado.

No século XVI, os colonizadores desembarcaram no Brasil, olharam uma terra gigante e logo perceberam que não iam dar conta de trabalhar. Resolveram buscar pessoas na África para lidar com o trabalho braçal.

Começa aí mais uma história triste do Brasil. Arrancados da terra natal, os negros chegaram aqui como escravos e essa dor durou 300 anos. Tudo que foi erguido nesse país tem sangue e suor de negro. Quem não aguentava o sofrimento cometia suicídio ou fugia para formar quilombos. Em 1888, acaba a escravidão no Brasil e começa a luta dos negros por igualdade.

Neste país, as mulheres também lutaram por igualdade. Sinônimo de cuidados de filhos e casa arrumada, elas também lutaram para ter direitos iguais. Um dos marcos dessa luta foi a conquista alistamento eleitoral e o direito de votar adquiridos na publicação do Código Eleitoral, em 24 de fevereiro de 1932.

Ser negro e mulher é uma coisa complicada no Brasil. Ainda hoje há discriminação e desigualdade. Mas olhar para as lutas do passado revigora a alma na busca de alcançar o objetivo, a igualdade.

Com exemplos passados, muitas mulheres negras lutam e vencem no presente. É o caso da empresária e ativista social Lika Guterres, mulher negra, 41 anos, moradora de São Luís. Barrada de estudar e trabalhar, sofreu violência doméstica até sair de casa com os filhos, levando apenas a roupa do corpo.

Empresária e ativista social Lika Guterres
A porta da rua foi um novo começo, uma chance única tentar o destino longe do agressor.

“Com ajuda da minha amiga Ivanilde, que me auxiliou com as crianças e com apoio e conselhos amigos, busquei uma colocação no mercado de trabalho para me manter financeiramente e melhorar a autoestima”, conta Lika.

A ativista trabalhou como manicure no salão de beleza da irmã. Meses mais tarde, ela começa a trabalhar como manicure por conta própria, mas passa por dificuldades para se manter e cuidar dos filhos. O bom desse período foi que Lika conquistou uma base de clientes.

O sorriso, o perfil forte e o empoderamento feminino fez o que o número de clientes aumentasse. Após a irmã ter desistido e fechado o salão, a empresária recebeu uma proposta da proprietária local que a irmã locava. “Ela disse que eu poderia ficar um mês sem pagar o aluguel e organizar meu negócio. Eu cair para dentro literalmente, o ponto virou local de trabalho e residência fixa”, relatou.

Com a renda feito no ponto, Lika Guterres faz o primeiro investimento e compra uma cadeira, um espelho e tapete. Nasce uma conquista, o Salão Pedra Rara inicia suas atividades em 1996.

Salão Afro Pedra Rara, localizado na Rua Portugal, 176, Centro Histórico de São Luís
“De lá para cá eu não parei mais de trabalhar, apesar de todas as dificuldades advindas de um negócio recém-criado. Ainda tive que resistir às ameaças vindas do meu ex-companheiro que por várias vezes chegou a invadir o salão. Mas posso dizer que venci”, ressalta a empresária.

Atualmente, Lika é graduada em Administração e influencia outras mulheres a superem as dificuldades e a encararem o empreendedorismo como fonte de liberdade. “Preciso contar minha história e ajudo tantas outras mulheres, que assim como eu, precisam de um empurrãozinho para começar”, fala Lika.

O Salão Afro Pedra Rara, localizado na Rua Portugal, 176, Centro Histórico de São Luís, tem 23 anos de presença no mercado e atua no segmento de beleza afro black hair stylist. A renda do Pedra aumenta com o crescimento do uso dos dreads em mulheres, homens negros e também no público masculino e feminino branco, sem distinção.

“O cabelo é uma forma de reconhecimento, e para os ancestrais africanos é símbolo da cultura e resistência de muitas mulheres que por muito tempo tiveram que manter seus cabelos presos ou alisados. A possibilidade de viver com cabelos ao natural pode ser entendida como uma forma de amenizar as dores sofridas pela escravidão”, declara.

Além da beleza, o salão realiza ações culturais e sociais como desfiles de crianças, jovens e adolescentes, e o projeto Itinerante Quilombola, que oferece oficinas gratuitas nos quilombos usando o material cedido pelo salão.

“É um trabalho demorado, exige tempo e esforço dos clientes e da profissional. No entanto, empreender é uma forma de se libertar dos medos, aflições, desigualdade e preconceito. Somos libertos para fazer com que outras pessoas tenham liberdade de pensar, aceitar suas raízes, agir e viver”, exclama Lika

O crescimento parte da base e com essa história, a empresária Lika Guterres faz seu caminho e ajuda outros a também seguirem em frente.

“A discriminação racial é um fato marcante na sociedade brasileira, que barra o desenvolvimento da comunidade Afro-brasileira, destrói a alma do homem negro e sua capacidade de realização como ser humano.” (Lugar de Negro, 1982, p.43).

O Brasil vai avançar se deixar para trás a desigualdade e a discriminação.

(Baseado no Trabalho de Conclusão de Curso, Salão Afro Pedra Rara no Ambiente Digital, apresentado ao Centro Universitário Estácio São Luís)


Comentários